Possibilidades – Parte 2

Por João Paulo Lima

 

Era um encontro marcado. Os dois, mesmo conhecidos de bem antes, não haviam mantido contato mais próximo. As mãos ainda não se tocavam. O olho no olho tinha sido rápido. Dez anos haviam separado aquele momento dos de antes, mas alguma ansiedade ocupava o corpo. E as expectativas, embora atrapalhem muita coisa, fazem parte do encontro.

Já é o encontro, ou o desejo de… Às 19h e trinta minutos eles se cumprimentaram, depois de um bom tempo do dia Paulo ter imaginado como seria o abraço e o beijo no rosto. A vontade de se reverem acontecendo finalmente. Bom, o melhor era Paulo ter de longe avistado Felipe deitado olhando uma árvore alta ou o céu ou as estrelas ou a lua cheia. Era uma noite de lua cheia. Relaxado, Felipe parecia como no alpendre de uma casa do interior, dentro do silêncio da cidade no feriado tranquilo. Aquela imagem dizia muita coisa. O corpo de homem a pensar algo já era uma metáfora intensa do que poderia acontecer depois. E depois? Algumas conversas delicadas, a vontade de chegar mais perto, de pegar e apenas deixar-se ser. – Não sei por que tenho vontade de tocar em ti. – Um riso tímido e surpreso em meio ao comentário. Conversa. Goles e mais goles de cerveja bem gelada. O paladar na língua, no corpo todo aguçado. A cidade, a poesia, a música e as pessoas da vida formavam parte importante de todas as conversas. Muita música. Muita música. Pausa para cantar uma delas. A primeira vez entre dois corpos em acordo pode se confundir com um sublime êxtase ou um orgasmo inconfundível. As mãos deslizaram entre braços, dedos, o tradicional toque das pernas debaixo da mesa exposta. Havia algum medo covarde de confessar o que há de curioso em entender o desejo de si e do outro. Mas medo é uma palavra fraca e covarde. O olhar fixo tem mais coragem. A atenção e a conversa entre dois homens que se desejam são mais altas que a cordilheira dos Andes. E o beijo?! Ah o beijo é o incontestável momento em que a vida não sei como parece parar e acontecer em densa simplicidade. Um turbilhão de coisas passa pela cabeça de Felipe e Paulo, mas a força dos lábios, das salivas se confundido e de parecer entrar um corpo no outro é mundano, pecaminoso e necessário. Como tomar água depois de muita sede. A noite parecia muito curta, a chuva trazia algo que a natureza parece consumar. Numa cidade quente, água é sempre bem-vinda. Entre o prazer e o sexo, Felipe e Paulo se contavam e inventavam histórias, narravam suas vontades, suas peripécias e suas fraquezas. A lua em Touro, a outra em Áries. Não havia semelhança senão na vontade de deitar um sobre o outro e descobrir o que há de segredo naquele mapa de pensamentos e desejo. – Muito bom estar contigo! – Eu também tô adorando. – Vou ao banheiro de novo. – Tudo bem, depois de algumas cervejas é assim. – Já volto! – Agora é minha vez. – Pedimos outra? – Sim, a saideira. A noite guardou no abraço forte de despedida e deixou vontade de mais tempo. O olhar de espera e expectativa agora era o de cheiro no travesseiro e a lembrança do lábios se tocando forte. Felipe adora histórias em quadrinhos. Paulo adora uma massagem de mãos viris. Ambos deixaram a conversa para depois, uma conversa a mais desmarcada de caipirinha e talvez café. – Você já provou com café? – É muito bom por causa da temperatura. – Boa noite, assim que conseguir chegar em casa, avisa. -Tá bem. – Cheguei.

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