Por que escrevo?

Existem muitas atividades terapêuticas, mas nada substitui a terapia. Vi essa frase no instagram uma vez, já faz um tempo, mas nunca esqueci. Terapia pode fazer milagres na vida das pessoas, pode literalmente salvar vidas. Ela é de fato insubstituível. No entanto, desenvolver uma atividade terapêutica é algo que também tem um potencial transformador gigante na vida das pessoas.

Toda forma de cura tem seu lugar. Especialmente quando se trata das feridas da alma, muitas curas são necessárias para se fechar algumas feridas. Por isso, auxiliar a terapia com atividades terapêuticas pode ser a chave para resolver algumas questões internas. Na dança de salão, por exemplo, desde que comecei, já vi muita gente buscando nela alguma cura, claro que muita gente entra só para curtir mesmo, mas a quantidade de gente que entra na dança buscando resolver alguma questão interna é impressionante. Até quem entra só pra curtir, acaba encontrando na dança acalanto para algumas angústias. Algumas pessoas buscam essa cura nos esportes, outros na religião, em relacionamentos e por aí vai. Há também os que procuram cura onde não há, e muitas vezes a situação só piora. 

Quem busca terapia está necessariamente buscando uma cura para suas feridas internas. Para mim, terapia é o processo de olhar para si, por intermédio de um terapeuta, na busca de respostas para perguntas que podem estar muito definidas ou completamente indefinidas. No entanto, após algum tempo senti a necessidade de tentar olhar para dentro de mim sem o intermédio de ninguém. É aí que aparece a escrita na minha vida. No início era só para dar vazão a algumas inquietações intelectuais e artísticas. Com o tempo ganhou mais um significado: mergulhar em mim mesmo.

Falando dessa forma, terapia e atividades terapêuticas parecem algo mágico né? Bom, de um certo modo é sim, considerando o potencial transformador, mas não é, nem de longe, um processo fácil. Encarar a si mesmo, as próprias emoções e as próprias angústias, na maioria das vezes é algo extremamente doloroso. Conhecer a si mesmo em busca de curas internas é como tomar um remédio terrivelmente amargo, o bom não é tomar, na verdade essa é a pior parte, o bom mesmo é ficar curado. 

Alguns textos aqui do blog foram extremamente dolorosos de escrever. O texto em que falo das questões que tenho com um tio meu é um forte exemplo, mas depois que ponho tudo para fora a sensação é maravilhosa. As emoções ficam mais organizadas e pelo menos um pouco mais fáceis de entendê-las e digeri-las. Muitas vezes o resultado é um texto confuso, truncado, difícil de ler, mas é porque a emoção envolvida era assim, uma coisa disforme e por vezes medonha. Nesses casos, se o texto sair limpinho e polidinho eu considero que tem alguma coisa errada.

Sempre que alguém me confessa questões pessoais mal resolvidas, sempre faço a recomendação de que a pessoa tente escrever sobre o assunto. Sei que não é porque funciona comigo que vai funcionar para todo mundo, mas sempre vale a tentativa. A pessoa pode descobrir mais uma ferramenta nova para buscar a cura das feridas sentimentais, mesmo que o resultado seja um texto confuso, completamente inviável de ser publicado, só o processo já pode ajudar bastante a organizar o coração e o juízo. Aliás, é sempre bom separar as duas coisas, escrever e publicar. Escrever como atividade terapêutica não implica em publicar, se quiser claro que pode, mas não é algo necessário.

O sentimento a ser explorado não precisa ser os sentimentos mais difíceis. Por exemplo, aqui no blog existe uma série de textos chamada cartas de amor. Nesses textos eu ponho para fora as coisas boas que eu gostaria de dizer para alguma pessoa mas que de outra forma não teria coragem. Pessoas que eu admiro e considero. Gratidão por algo que foi vivido, mesmo que muito breve. Paixões platônicas por pessoas que nunca me viram. Atualmente existem 10 cartas de amor aqui publicadas e pelo menos mais umas 10 que penso em escrever. Além de auxiliar no exorcismo dos demônios internos, atualmente eu tenho duas metas com a minha escrita, uma delas é escrever pelo menos 100 cartas de amor até o fim da vida. O motivo? A pergunta “quem é você?” sempre me causou muita angústia. Ainda hoje não sei respondê-la. Depois que comecei a escrever essas cartas eu decidi,  quero poder chegar no fim da vida e alguém perguntar, “quem é você?” e então responder “eu sou o idiota que escreveu 100 cartas de amor”. Uma completa besteira.

E qual é a outra meta? Algumas pessoas próximas já sabem. Eu estou no processo de escrever um livro, um compilado de contos eróticos. A vontade pra isso veio depois que publiquei dois contos eróticos aqui no blog. Os textos fizeram tanto sucesso que comecei a escrever mais, e logo surgiu a vontade de transformar isso em um livro. Não faço a menor ideia de quando vai ficar pronto, mas está em desenvolvimento. 

A todos que chegaram até aqui, deixo a recomendação para que tentem escrever sobre alguma questão interna, sem medo de escrever de forma desconexa e sem medo do resultado. Afinal, é preciso se perder um pouco para enfim se encontrar.

3 Comments

  1. Putz….as vezes é complicado até pra colocar no papel o q sente! Mas funciona, muita, vezes funciona a escrita como terapêutica!

  2. Teus textos também são terapias pra mim. Me espelho nos teus contos, vivências, sentimentos. Sinto também, vivo também. E o último ponto sempre vejo como um abraço.

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