Miranda

É ela, lá no meio do salão. É tão difícil descrevê-la: seu rosto, seu corpo, suas expressões. Ainda mais tocando essa música, esse tango. Olhá-la dançando esse ritmo é a mais sublime das combinações entre a audição e a visão, se existisse uma palavra para definir a mescla entre paixão e hipnotização eu usaria agora, mas não há.

Seu rosto possui duas das mais belas características de nossa literatura, que nenhum homem jamais imaginaria encontrar em uma só mulher: os lábios de mel de Iracema e os olhos de ressaca de Capitu. Quem ousa dançar com Miranda deve privar-se de olhar em seus olhos, pois se o fizer, correrá o risco de entregar-lhe o coração, perder o juízo e se desprender da alma.

Seu corpo esguio dá à impressão de unir-se às ondas sonoras da música, aproximando-se por todos os lados ao mesmo tempo, envolvendo e seduzindo. A exatidão da metragem de seus olhos, sua cintura e seu quadril é a mesma encontrada em um brilhante. Suas pernas são firmes e, ao mesmo tempo suaves, de uma forma inimaginável, conferindo-lhe o talento de executar os mais improváveis passos de dança.

Quando Miranda dança, todos os casais do salão param para admirar, pois vê-la dançando é uma oportunidade única. É como se pudéssemos sentir o calor e o fulgor de sua alma, talvez essa seja a explicação de seu brilho, de sua ressonância desnorteante, pois seus movimentos podem expressar todo tipo de emoção que conhecemos e até as que estamos para conhecer. Eu adoraria dançar com ela, mas não posso, pois não consigo nem mesmo achar palavras para descrevê-la.

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