Diário de Viagem e Pesquisa do Alquimista Interplanetário Ícaro Serafim

-Dia 1-

Finalmente cheguei a Ganímedes, o principal satélite natural de Júpiter. Me hospedei em um estabelecimento reservado a viajantes interplanetários. A primeira vista, os nimedianos (como nós terráqueos chamamos os nativos daqui) são pacíficos, mas a comunicação com eles costuma ser complicada. Eles conseguem utilizar as tecnologias trazidas por outros viajantes planetários mas eles mesmos aparentemente só desenvolvem objetos de baixa complexidade. A atenção deles comumente está voltada para a caça predatória dos animais de Ganímedes. Minha missão aqui é investigar uma substância que consegue cicatrizar qualquer tipo de ferimento em questão de segundos.

-Dia 2-

O primeiro dia de trabalho foi bastante proveitoso. Após visitar uma instalação local que parece uma mistura de laboratório de biologia do ensino médio e um açougue, descobri que a tal substancia é extraída da boca de um animal da fauna ganimediana. Os nimedianos, após observarem que esse animal lambia as próprias feridas e estas cicatrizavam rapidamente, passaram a caçar esses animais, extrair sua saliva e utilizá-la em seus próprios corpos. Parece asqueroso, mas o pior de tudo é que funciona! E é exatamente a saliva pura desse animal que eles comercializam com os viajantes que passam por aqui, muitas vezes trocando por bugigangas.

Preciso encontrar esse animal vivo para extrair um pouco de sua saliva e analisá-la. O que provavelmente será um problema. Esse animal chamado pelos nimidianos de Goru, vivem em locais de difícil acesso e quando atacados se tornam extremamente agressivos. Consegui ver um deles abatido hoje, tentando descreve-lo com animais terráqueos, seu corpo lembra o de um urso, mas um pouco maior do que o normal e sem pêlos, a cabeça lembra a de um cachorro buldogue gigante e a pele tem uma textura parecida com a pele de um rinoceronte só que com um tom azulado.

-Dia 3-

Passei o dia inteiro organizando um expedição para procurar os Gorus. Contratei 4 nimedianos, sendo um deles o chefe do grupo, seu nome é Akardaum (os nomes dos nimedianos curiosamente lembram muito os nomes árabes da Terra). O que mais me chamou atenção no grupo é que eles possuem um belíssimo cão farejador de Netuno.

-Dia 4-

Eu não sei como estou vivo. Se não fosse pela Virgínia (a cadela de Netuno) o Goru que encontramos teria me fatiado facilmente. Graças a imensa munição de tranquilizantes que levamos e mais um punhado de sorte, conseguimos não matar o animal. A extração da saliva não demorou muito tempo. O Goru foi deixado com alguns ferimentos provocados pelas presas da Virgínia, mas nada que o deixasse a correndo risco de morte, quando ele acordar, conseguirá facilmente se recuperar fazendo uso de sua saliva e nós já estaremos longe.

Akardaum me contou que a caça aos Gorus provoca muitas mortes dos nimedianos. Prometi a ele que daria um jeito de ajuda-los depois de analisar a saliva coletada. Desconfio que o efeito cicatrizador pouco tem haver com saliva do animal.

-Dia 5-

Fiz um roteiro de processos para investigar a saliva dos Gorus. O primeiro passo será isolar todas as substancias que compõem a saliva. Nessa etapa o super computador instalado na minha nave será fundamental (preciso agradecer ao Marcus por isso quando voltar a Terra). Se não fosse esse computador eu levaria anos, talvez décadas para isolar as substâncias. A etapa seguinte é testar de várias maneiras a substância encontradas, até encontrar a que se enquadre como sendo a responsável pela restauração dos ferimentos.

-Dia 10-

Após 5 dias exaustivos de trabalho, finalmente cheguei a uma conclusão! O efeito cicatrizante é causado por uma bactéria encontrada na saliva dos Gorus, elas vivem em sua boca se alimentando dos restos de comida, quando em contato com algum ferimento, essa bactéria rapidamente “come” toda a parte morta e/ou apodrecida do ferimento, como se não bastasse, os dejetos dessa bactéria são uma espécie de super estimulante para o processo de cicatrização.

Agora que sei como de fato ocorre esse fenômeno, será possível cultivar essas bactérias em laboratório, a substancia produzida por ela poderá ser extraída para a produção de fármacos. Logo não será mais necessário caçar os Gorus. Amanhã darei a boa notícia para Akardaum.

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