Carta de amor N° 9

A primeira vez que experimentei cannabis foi em 2019, quando tinha 28 anos. Tenho vários amigos que fumam, mas nunca tinha me interessado, até que uma amiga insistiu bastante para que experimentasse. Ela dizia que eu precisava experimentar pelo menos uma vez ficar chapado. Tentamos duas vezes, mas nenhuma das duas bateu. É algo relativamente comum de acontecer pra quem está iniciando nesse mundo, por não saber tragar direito, você tem a sensação de estar fumando, mas não está de fato tragando.

Eu fiquei chapado pela primeira vez neste ano de 2020, com 29 anos. Minha namorada é uma maconheira de primeira, começamos a namorar esse ano e logo ela me introduziu a esse mundo. Sou muitíssimo grato a ela por isso. Neste texto pretendo contar um pouco da minha experiência com cannabis e também servirá como uma carta de agradecimento a Jaiana (doravante chamada apenas de moh).

Existem muitas formas de se consumir cannabis. Pode ser com alguma comida feita com ela, sendo o brownie um dos mais comuns, pode ser fumando como um cigarro (o famoso beck), pode ser por baldada (o mais difícil de explicar), pode ser utilizando um bong ou cachimbo, enfim, existem muitas formas de se consumir a erva.

(bong acrílico – fonte: megatabacaria)
(Homem fumando cannabis em Calcutá, Índia – fonte: wikipedia)

A primeira vez que fiquei chapado foi através da baldada. Fisicamente falando, a baldada tem o mesmo princípio de um bong, é como se fosse um bong improvisado. Eu achei um excelente artigo na internet que chama esse método de bong gravitacional. Vou me poupar o trabalho de explicar exatamente como funciona a baldada, mas caso você esteja muito curioso, recomendo a leitura do link.

A primeira coisa que pensei quando me dei conta de que estava chapado foi: isso é muito mais parecido com ficar bêbado do que eu imaginava. Óbvio que tem suas diferenças, mas também tem muitas coisas em comum. Por exemplo, a falta de noção de espaço, perda de equilíbrio, perda da noção de tempo e relaxamento. Se você já ficou bêbado algumas vezes na sua vida, ficar chapado não vai parecer algo muito extraordinário em um primeiro momento. Só com essas informações já podemos chegar a uma conclusão muito simples que eu gostaria muito que todos entendessem. Ficar chapado não é nada de outro mundo, aliás é muito mais leve do que ficar bêbado. Pessoas bêbadas costumam ficar corajosas e por isso acabam fazendo besteira. Pessoas chapadas só querem ficar quietinhas na paz curtindo a viagem. Dito isto, gostaria de convidá-lo até o próximo parágrafo para que eu possa fazer uma apologia descarada ao uso de cannabis.

Se todo mundo se permitisse ficar chapado pelo menos uma vez na vida, o mundo seria outro, seria um lugar muito melhor. Por uma razão muito simples, uma vez que você fica chapado, você percebe que não é nada de mais e não tem porque haver toda a proibição que existe atualmente. Por ser uma experiência muito mais tranquila do que ficar bêbado, é normal começar a achar ridículo que o álcool seja legalizado e a cannabis não. Da mesma forma passa a ficar ridículo também a ideia de que a cannabis é a porta de entrada para outras drogas. Se você já fumou cigarro normal, já ficou bêbado, e já fumou cannabis e ficou chapado. Você passa a perceber que o cigarro normal e o álcool estão muito mais próximos de ser uma porta de entrada pra outras drogas do que a cannabis, mas no fim das contas isso depende muito mais do sujeito do que o que ele consome.

A cannabis é só mais um brinquedo de adulto, simples assim. Tem o álcool, tem o cigarro normal, tem o sexo e tem a cannabis. É tão simples quanto isso. Brinquedos de adulto exigem responsabilidade, é preciso beber com responsabilidade, transar com responsabilidade e fumar com responsabilidade, independente do que se esteja fumando. Existem adultos que fazem uso irresponsável dos brinquedos, mas isso não é culpa dos brinquedos (antes que alguém venha querer aplicar essa mesma lógica em relação à posse de armas, por favor entenda que armas NÃO são brinquedos).

Mas Felipe, então não existe diferença entre ficar bêbado e ficar chapado?

Claro que existe. É exatamente sobre isso que quero tratar agora. A primeira grande diferença que sinto quando estou chapado, é um ganho inacreditável de criatividade. É sempre muito difícil explicar exatamente o que se passa quando se está chapado, mas pelo menos em relação a criatividade, é como se os pensamentos ficassem mais soltos e passassem a percorrer caminhos que de outra forma não percorreriam.

Felizmente, eu tenho dois registros que são ótimos exemplos desses ganhos de criatividade. O primeiro foi quando eu estava em uma casa de praia, chapadíssimo, então me veio umas ideias muito loucas na cabeça e resolvi mandar um áudio pro meu primo, o Dan (tô com saudade viu?), pra compartilhar a doidera. Convido a todes a escutar este primeiro registro.

O segundo registro é em forma de texto, eu estava chapado na casa da minha amiga jhessy (bju miga) quando veio a ideia:

Realidade = simulação;

Deus = I.A da simulação;

Venerar Deus = Venerar I.A da simulação;

Venerar I.A = Gerar energia simulada que alimenta a realidade não simulada.

A realidade simulada em que vivemos é uma usina de energia simulada que alimenta uma outra realidade.

Além do ganho de criatividade, existem outros efeitos da cannabis que por sorte eu também fiz áudios enquanto estava chapado pra registrar.

Em relação a travessia de sentidos, um amigo meu, o Victor (bju migo), me falou que consegue ver a música quando está chapado. Me parece um exemplo claro de alguém que conseguiu acessar a visão através da audição.

Sério, comer chapado é muito bom.

Aqui um exemplo de uma expansão muito doida de consciência.

Mas Felipe, se a cannabis é algo tão natural assim? Porque é ilegal?

Simples, a história da ilegalização da cannabis no mundo está diretamente relacionada a uma política racista e xenofóbica dos EUA. Após o fim da escravidão no EUA e a medida que cada vez mais imigrantes mexicanos chegavam ao país, os políticos americanos, em especial um político chamado Harry Jacob Anslinger, criou através do sistema político e midiático um inimigo publico na figura da cannabis. Essa construção de um inimigo que na realidade não existia tinha duas funções: criar capital político, pois Anslinger se vendia como o herói que iria salvar os EUA desse mal e sustentar uma política de repressão racial e étnica, uma vez que a cannabis era bastante popular entre as comunidades afro americanas e imigrantes mexicanos. Após implantar essa política anti cannabis em todos os estados, os EUA levaram essa ideia para a ONU que por sua vez difundiu para o resto do mundo. Só recentemente que a cannabis saiu da lista de drogas perigosas da ONU.

Caso você queira saber mais sobre essa história. Aqui vai algumas dicas de conteúdos que recomendo fortemente sobre o assunto:

Baseado em fatos raciais”,  documentário disponível na Netflix. Sinopse: “Ela inspirou o jazz e o hip-hop — e desencadeou uma guerra contra as drogas cheia de injustiças raciais. Especialistas exploram a complexa relação dos EUA com a cannabis.”

Quebrando o Tabu”, documentário disponível no Youtube. Sinopse: “Há 40 anos os EUA levaram o mundo a declarar guerra às drogas, numa cruzada por um mundo livre de drogas. Mas, os danos causados pelas drogas nas pessoas e na sociedade só cresceram. Abusos, informações equivocadas, epidemias, violência e o fortalecimento de redes criminosas ”

Cannabis. A Ilegalização da Maconha nos Estados Unidos”, quadrinho documental. Sinopse: “México, 1519. Durante a violenta empreitada colonial espanhola, Hernan Cortés introduz nas Américas o plantio de cânhamo. Em segredo, os nativos começam a consumir a planta. Ao ser levada aos Estados Unidos por imigrantes em busca de trabalho, é compartilhada com trabalhadores negros. Em pouco tempo, a cannabis seria denunciada por autoridades como um vício típico de “raças inferiores”. Era o início de toda uma era de desinformação, destinada a criar pânico em relação a uma planta utilizada pela humanidade durante milhares de anos. A cannabis acabaria incluída na Lista I de substâncias controladas, ao lado da heroína. Foi o primeiro passo na chamada “Guerra às Drogas”, que tinha como alvo principal jovens negros, encarcerados aos milhares por pequenos delitos. Com suas raízes em factoides e estudos tendenciosos, essa é a história da relação complexa e carregada de tensões raciais dos Estados Unidos com a cannabis. Uma história que continua até hoje. Box Brown mergulha fundo nessa controvérsia histórica para criar um “argumento em quadrinhos” divertido e extensamente pesquisado sobre o legado da proibição da cannabis nos Estados Unidos.”

A MACONHA E VOCÊ“, vídeo do canal Meteoro Brasil disponível no Youtube. Sinopse: “As discussões sobre a cannabis normalmente acontecem sob uma perspectiva social. Hoje, a gente aborda o assunto a partir da fisiologia. Como a cannabis age dentro do seu corpo e por que ela tem os efeitos que tem?”

GREG NEWS | MACONHA“, vídeo do programa Greg News sobre a cannabis disponível no Youtube.

Braincast 420 – O negócio da maconha“, episódio de podcast do Braincast. Sinopse: “COMO A FOLHA QUE ORIGINA A MACONHA SE TORNOU UMA APOSTA BILIONÁRIA DO MUNDO DOS NEGÓCIOS. A relação da humanidade com a Cannabis é milenar. Mesmo que, nas últimas décadas, a folha tenha se tornado conhecida por originar a maconha – uma das drogas mais populares do mundo -, os antigos já conheciam seus múltiplos efeitos (muito além da famosa “brisa” que a planta dá em quem a fuma). Lutando contra proibições e associações com o tráfico e o mundo das drogas, pesquisadores há anos têm investido nas propriedades da Cannabis nos mais diversos usos. E, agora, com o avanço do debate pela legalização do uso e comercialização da maconha, as marcas começam a estruturar o “cannabusiness”, um mercado com potencial de lucro bilionário nos próximos anos. No Braincast 420, Carlos Merigo, Cris Dias e Marko Mello conversam com Marcelo Grecco, co-fundador e CMO da The Green Hub, para conversar sobre as inovações, os desafios e os mitos e verdades sobre esse mercado que tá fazendo a cabeça do mundo dos negócios.”

AntiCast 493 Maconha“, episódio de podcast do Anticast. Sinopse: “Neste programa, Giselle Camargo conversou com Sidarta Ribeiro que é neurocientista, biólogo, professor titular e vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e com Emílio Figueiredo, advogado da Rede Reforma e conhecido como Doutor Cannabis. E o tema da conversa foi o uso medicinal da cannabis, uma das poucas pautas progressistas que avançaram no país nos últimos anos. Mas qual a situação de quem precisa do remédio produzido com cannabis? Qual o caminho para que quem usa a medicação possa cultivar a planta em casa? Já no uso adulto, podemos vislumbrar um futuro não proibicionista em relação às drogas?”

Indicação bônus

Existe uma empresa nos EUA chamada MedMen. Ela é especializada na produção de cannabis e produtos derivados de cannabis. Vale muito a pena dar uma olhada no instagram deles pra ver a quantidade de tipos de cannabis diferens que existem (algo que acabei não falando nesse texto) e a infinidade de produtos derivados, tem pirulito, chocolate, lubrificante, bebidas, produtos pra pele e por aí vai.

https://www.instagram.com/shopmedmen/

Ufa! Acho que esse acabou sendo o texto mais longo do blog, mas por hoje é só meus amores. Bebam, fumem e transem bem muito porque a vida é uma só.

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