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Na última quinta feira eu fiz aniversário. Recebi um presente que acionou um gatilho de uma memória que a tempos eu queria falar aqui no blog. Não é uma memória feliz, mas é carregada de significado.

Foi de um tempo pré dança na minha vida. Durante a minha adolescência tresloucada. Eu tinha um grupo de amigos que costumava se encontrar na Praça da Matriz no bairro Henrique Jorge. Nos encontrávamos para jogar RPG, beber vinho, conversar, vadiar e outras coisas. Entre esses amigos tinha o Joaquim Neto, que por conta do seu físico de filé de borboleta tinha a alcunha de Ossada. Como muitos daquele grupo, era boêmio, malandro e vagabundo. Mas não o julgue, pois como muitos daquele grupo, Ossada tinha problemas que fariam a maioria das pessoas apenas se encolher em posição fetal e chorar. Lembro da gente brincando de Mestre Jedi na praça. Usando o braço como sabre de luz, ganhava quem estocava o corpo do adversário primeiro. O braço saia todo roxo por conta dos impactos.

No meu aniversário de 15 anos, em um longínquo 2006, Ossada me deu o livro O Diário de um Mago do Paulo Coelho, ele era vagabundo mas tinha cultura. Em uma página interna tinha uma dedicatória.

Entre os vários problemas que o Ossada enfrentava, tinha o alcoolismo. A última lembrança física que eu tenho dele é da gente sentado na área da minha antiga casa no Henrique Jorge, só nós dois, onde ele me narrava o quanto a vida dele era uma merda e não tinha sentido. Passamos um tempo sem nos falar e sem nos ver, e a próxima notícia que eu tive dele foi que ele faleceu de cirrose… aos 18 anos.

Eu já estava deixando de andar na praça, e depois disso cada vez menos eu ia lá. Lembro de alguns amigos falando que a mãe dele guardava suas roupas. Como se um dia ele ainda fosse chegar em casa depois da aula pedindo para a mãe dele botar o almoço. Mas a verdade é que aquela cadeira na mesa da cozinha perto da geladeira jamais será preenchida novamente. Lembro também de um dos nossos amigos, o Jhonis, revirando meio mundo atrás de reaver o violão que tinha pertencido ao Ossada, pois ele tinha vendido pra comprar sei lá o que. Jhonis conseguiu reaver esse violão e eu cheguei a vê-lo uma vez.

Eu lembro que cheguei a tirar uma foto ou outra com o Ossada, mas todas se perderam com o tempo. Hoje toda lembrança que eu tenho dele é esse livro com a sua assinatura. Toda vez que eu ganho um livro a primeira coisa que eu procuro é se tem dedicatória. E sempre quando eu dou um livro de presente eu faço alguma assinatura/dedicatória. Acho que não preciso mais explicar porque isso tem tanto significado pra mim.

Sem mais o que dizer, só me resta apenas compartilhar a dedicatória que ganhei nesse aniversário:

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