Recentemente o youtuber Julio Victor postou um vídeo em seu canal que eu gostei bastante chamado “pq estátuas tem pau pequeno?“
(se possível assistam o vídeo antes de continuar a leitura)
Sempre que gosto muito de um vídeo e acho que o conteúdo tem alguma relevância social, eu mando pros amigos próximos e/ou para quem eu acredito que precisa ter contato com a informação passada no vídeo. Com este não foi diferente. Neste vídeo-ensaio*, Julio Victor tenta responder a questão que está no título. O desenvolvimento dessa resposta passa por um apanhado sobre a história da masculinidade, que como sabemos é uma história que de um modo geral só tem problemas. Mas chega de introdução, vamos até o próximo parágrafo que eu quero chegar logo onde eu quero chegar.
Adoro observar a reação das pessoas em relação aos conteúdos que eu mando, especialmente a reação dos homens quando mando algum conteúdo sobre masculinidade. Uma das pessoas demonstrou uma reação extremamente aversa ao vídeo, até um tanto quanto agressiva. Vou reproduzir abaixo em texto essa reação que me foi enviada por áudio:
Rapaz esse maluco aí bateu com a cabeça viu? Puta que pariu cara, onde que tu arruma esses… é muita nóia viu? Só olhando o bit do cara é… sei lá… é corrompido… sei lá que diabo é isso
O tom da fala era de indignação e revolta. Respondi apenas com 3 emojis de risada, não me dei nem o trabalho de perguntar o que era esse “bit”. Esse tipo de reação eu já tinha visto antes, na verdade é algo que perpassa e até caracteriza a nossa sociedade de início de século. É o famoso hate que vemos na internet, uma repulsa e um ódio que é difícil de saber de onde vem, mas acho que agora tenho um palpite sobre a origem desse hate.
No vídeo, para responder a pergunta “pq estátuas tem pau pequeno?”, Julio Victor recorre à análise de um tema abstrato, a masculinidade. Analisar o abstrato significa necessariamente passar pelo subjetivo, ou seja, buscar um entendimento que um raciocínio cru e nu não dá conta, além de raciocinar, é preciso sensibilidade para sentir. Quem não desenvolve essa sensibilidade, acaba desenvolvendo uma aversão a assuntos e temas subjetivos. Para essas pessoas, as respostas têm que ser simples, diretas, objetivas. Nada de pensar. Especialmente se esse pensamento requer sensibilidade. Para pessoas assim, uma pessoa como o Julio Victor é colocado logo como viado, doido ou os dois.
Onde eu estou querendo chegar? A minha tese é: a falta de sensibilidade limita a compreensão dos temas subjetivos. Somando essa tese com aquela velha anedota de que as pessoas têm medo daquilo que elas não conhecem, chegamos a conclusão de que a falta de sensibilidade gera um medo da subjetividade. Sabemos que uma reação possível quando se tem medo de algo é tentar destruir o objeto que provoca o medo. Pronto. Temos uma tese para tentar explicar o hate. Se você chegou até aqui comigo, por favor me acompanhe até os próximos parágrafos para tentarmos aplicar a tese em alguns exemplos.
Questões de gênero. Um tema que pega a ideia binária do masculino e feminino e joga nesse caldeirão da desconstrução, empurrando as ideias “tradicionais” de gênero para esse campo da subjetividade. O que mais temos na internet sobre os estudos de gênero? Ódio. Ódio nas suas manifestações mais vis e cruéis, do tipo que provoca mortes.
Manifestações artísticas. Algo que não só está no centro da subjetividade, como também é a área do conhecimento que se propõe a desenvolver a sensibilidade, desenvolver o sentir. Tão necessário para se compreender essa subjetividade de que tanto falo. (Eu sei que escrevi subjetividade muitas vezes no texto, por sorte não estamos em uma redação do ENEM). Qual a reação mais comum em relação às manifestações artísticas hoje? Ódio, mais uma vez em suas formas mais destrutivas.
Talvez eu esteja sendo muito prepotente, tentando explicar problemas extremamente complexos com um texto de blog. É preciso levar em conta vários outros fatores para entender esse hate, como os valores religiosos e a falsa sensação de anonimato que a internet traz. Minha proposta aqui é só compartilhar com o universo essa inquietação que surgiu. Ficaria feliz se essa reflexão puder ser mais uma ferramenta conceitual para entender a sociedade contemporânea. É uma inquietação que ainda tá fervilhando no meu juízo e ainda precisa amadurecer mais, porém queria botar para fora logo na tentativa de aliviar um pouco o juízo. Se por acaso você também quiser fazer parte desse caldeirão da inquietação com esse tema, por favor, fique a vontade para deixar algum comentário abaixo.
O que mais tem me feito pensar agora é que esse medo da subjetividade parece ser um dos pilares do bolsonarismo, mas isso é assunto para outro texto.
*Sobre vídeo-ensaio
(Sim, uma nota de rodapé que gerou um novo título. Foda-se)
Vídeo-ensaio é de longe o meu gênero de vídeo favorito do youtube. Se você quer saber mais sobre essa maravilha do audiovisual e conhecer canais que produzem esse tipo de conteúdo, segue aqui algumas dicas: